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terça-feira, 24 de outubro de 2017

O BANDIDO DO COLARINHO BRANCO.



Sendo mineiro e bairrista como eu, não seria de causar espanto algum aos eleitores de outros Estados da federação, caso conhecessem a dignidade da história mineira que retrata os mineiros que votaram em AÉCIO NEVES. ------ 

É lamentável que após ter sido seu fiel eleitor desde a sua primeira eleição para deputado, ter que vê-lo chamado de bandido, criminoso, ladrão do dinheiro público, numa ampla exposição através da grande mídia... ---- Tomar conhecimento de seu relacionamento com fitas gravadas tornando-se obvio os seus crimes e seu verdadeiro caráter chulo... -----Tê-lo indigno não somente do meu voto, mas dentro de sua própria família, quando levou à prisão a sua própria irmã e um primo que o assessorava. 

---- AÉCIO NEVES é um traidor dos mais miseráveis. Traiu os seus ancestrais; traiu os seus eleitores; traiu a sua família, traiu a história mineira onde nasceu a liberdade. Traiu a Inconfidência Mineira; o Manifesto dos Mineiros; a República do Café com Leite e a participação dos mineiros na redemocratização do país. ----- Grandes nomes de mineiros tiveram ampla participação nesse processo, entre eles, Afonso Penna, Juscelino Kubitschek, Itamar Franco e Tancredo Neves (como Primeiro Ministro antes da revolução de 64). ----- Tivemos, também, a participação de muitos ministros, entre eles, Milton Campos, Gustavo Capanema e José Maria Alkmin. 

----Os mineiros sempre se sentiram honrados com a sua história política; com a dignidade de seus políticos; com o respeito à causa pública. E, no entanto, aparece, agora, um bandido da pior espécie, e pior ainda: descendente de um homem honrado que amava o Brasil, que morreu pobre e dedicou toda a sua vida ao Brasil. Esse homem era Tancredo Neves. Tancredo que enquanto os políticos do rabo preso eram expulsos do país por corrupção, Tancredo conversava, enfrentava ditadura militar não como revolucionário, mas sim com a força do diálogo na busca das “Diretas Já”. 

Esse crápula que atende pelo nome de AÉCIO NEVES, se tivesse um pouquinho de dignidade e de vergonha na cara se renunciaria ao cargo que sete milhões de mineiros traídos lhe deu. Mas não. O bandido continua, agora, na busca de artifícios falsos diante do óbvio. Descaradamente falando em defesa de si, falando em defesa do indefensável. Afinal ele sabe que a Justiça nem sempre é cega. 

----- É preciso testemunha de vista para atestar a autoria dos crimes de corrupção cometidos por AÉCIO NEVES? Não, não e não, nos responde a razão, o bom senso e a realidade dura. O que poderia ter levado AÉCIO a trair os sete milhões de eleitores que o elegeu? Um politico bem sucedido, sempre eleito com número expressivo de votos; herdeiro de bons nomes como Tancredo Neves e Tristão da Cunha, com a chance de ser o futuro Presidente da República e ter o seu nome cravado honradamente na história, como tem o seu avô. 

A resposta não poderia ser outra: Só mesmo aqueles que têm o instinto maligno e a tara do crime poderão assim se comportar. Como eleitor que votei nele sou, infelizmente, uma célula do poder que ele detém sem merecimento. 

------ Para mim, os seus amigos e colegas da política e do Senado, com arroubos de oratória e no benefício da dúvida de provas, brindam o povo brasileiro dando a esse bandido de colarinho branco, tinta para a sua caneta criminosa, com a qual continuará sangrando o povo brasileiro, especialmente o povo mineiro. 

----- Resta-me ver esse canalha que sobe à tribuna do Senado Federal, para falar de família, inocência, honra aos seus eleitores e trama ardilosa, eu vejo isso como o cúmulo da hipocrisia; o instinto do crime; a tara do bandidismo, presos como mascara da imoralidade no seu rosto.

Armando Melo de Castro.







domingo, 15 de outubro de 2017

LICA DO JOÃO PASSATEMPO.


---Ouvi no noticiário que o gás de cozinha poderá ter um aumento. --- E eu logo pensei, com essa pandemia, a situação financeira do povo precária como está  não seria bem vindo nenhum tipo de aumento, principalmente desse produto que se trata de algo de necessidade básica. ---  Mas enfim, fazer o quê? Afinal quem mora em apartamento assim como eu, não tem alternativas... É pagar o preço que vier ou fechar a cozinha. Contudo, acredito que isso não será o proposito de ninguém.

 ---Segundo as pesquisas, nesse momento de crise uma revenda de gás é um dos negócios mais rentáveis. Isso porque o gás tem sido vital para a economia e é um produto de venda e giro rápidos, pois não fica estocado por muito tempo. Além disso, não tem prazo de validade; e trata-se de um produto de necessidade básica. Segundo as estatísticas o gás de cozinha tem uma penetração muito maior que a energia elétrica, a água encanada e a coleta de esgoto no país e está presente em 98% nas casas dos brasileiros independente da região e da renda da população.

---Mas falando nisso, fermenta nas dornas do meu cérebro um fato guardado bem nos fundos da minha memória desde a década de 50, quando a minha idade girava em torno dos dez anos.

 ---Em Candeias não havia gás de cozinha. As pessoas usavam fogão a lenha; ou pó de serra fornecido gratuitamente pelos proprietários de marcenarias, e/ou casca de café conseguida nas máquinas beneficiadoras; também de graça.

 ---A lenha era vendida aos metros cúbicos pelos fazendeiros. Naquele tempo não havia esse rigor das leis e nem da polícia florestal sobre o desmatamento. As pessoas mais humildes ou sem disponibilidade financeira para comprar um metro cubico de lenha, compravam feixes, fornecidos pelas lenheiras que tinham essa fonte como complemento de renda. 

 ---Elas transitavam livremente pelos matos na busca dos galhos secos; faziam os feixes já encomendados pelos compradores que economizavam ao máximo aquele combustível caro para quem comprava, e barato para quem vendia. ----- Comumente as lenheiras eram vistas pelas estradas com enormes feixes de lenha sobre as cabeças amparadas por rodilhas. Elas se levantavam cedo e iam pelos matos a procura de lenha, num trabalho árduo, que resultava então da venda por CR5,00 (cruzeiros) para uma ajuda nas despesas da casa.

 --Mulheres com filhos pequenos, onde os maiores ficavam tomando conta dos menores enquanto a mãe buscava lenha. Era uma vida miserável num tempo de muita pobreza.

 ---Apesar de pertencer a uma família proletária eu tinha a minha infância feliz. Tinha pai e mãe que viviam em prol da família e a gente tinha o básico necessário para a sobrevivência. Parecia-me, portanto, sentir que era o povo daquele tempo mais feliz, mesmo estando com as suas roupas remendadas; pés no chão; bolsos sem dinheiro; a cabeça de palha no bolso da bunda; o cigarro de fumo de rolo; bem como o toco do cigarro agarrado na orelha... Isso era como o retrato da pobreza, bastante comum. ----- Dava até para pensar que fumar era o único prazer que o pobre sentia -----. A tranquilidade para fazer o cigarro e a paciência para acendê-lo com aquela binga rústica seria uma mostra de um comportamento inexistente nos dias atuais.

 ---Não havia tantos produtos industrializados e nem empacotados, tudo era a granel. Comprava-se 250 gramas de banha, meio quilo de arroz e meio de feijão. Nem tudo era vendido por quilos, ou seja, as pessoas compravam produtos até para fazer apenas uma refeição. Muitos trabalhavam a parte da manhã para comer à tarde. A vida do pobre era difícil, muito difícil.

 ---E hoje, ao ter a notícia de que o botijão de gás vai ter aumento de preço, eu dei uma olhada no retrovisor da minha vida e vi a Rua Coronel João Afonso Lamounier, em Candeias, rua onde nasci, e palco da minha infância.

 ---Lembro-me, então, de uma mulher pequena, mulata, conhecida como LICA DO JOÃO PASSATEMPO e que tinha como prática frequente ir todos os dias aos matos buscar um feixe de lenha para vender pelo valor de C$5,00 (cruzeiros.) era o dinheiro da época, o que numa conversão para o real não seria mais do que R$ 12,00, por uma viagem aos matos durante horas e horas para encontrar um feixe de lenha.

 ---Certo dia o meu Tio, João Delminda, pediu-me para ir até a casa de Lica, que ficava na mesma rua, encomenda-la um feixe de lenha. ----- E ela educadamente, disse-me: “Armando, avise ao seu tio que nós, as lenheiras, passamos o feixe para 6 contos, a coisa tá preta, subiu tudo, o metro já subiu duas vezes; estamos indo longe pra achar lenha e esse foi o motivo de nós também ter que aumentar um pouquinho”.

 ---Avisei-o, mas meu tio não disse nada. – Dois dias depois Lica chega à casa do meu tio, próxima a minha, com o feixe de lenha. Eu a observei enquanto aguardava o meu tio com o dinheiro para paga-la: molhada de suor, aspecto de cansaço, segurando as cordas de amarrar o feixe e a rodilha, suas ferramentas de trabalho, tomando um copo d’água como se estivesse morrendo de sede, e dizendo a minha tia que ainda iria fazer almoço, quando chega o meu tio com o dinheiro e lhe disse: “Eu acho um absurdo um feixe de lenha por 6 contos Lica”. Já era caro por 5, agora 6... Isso é falta de consciência!

 ---Lica não disse sequer uma palavra. Deu apenas um triste olhar para os lados numa expressão de quem dizia: “como viver é difícil!”.

 ---E eu naquele momento quisera falar algo em favor de Lica. Mas sendo um menino ainda no verdor dos anos, eu tinha o direito apenas de pensar e nunca de falar. Pensei. E estou pensando até hoje. 


---Portanto, Dona Lica do Sr. João Passatempo, eu queria que soubesse que naquele momento eu me engasguei com as palavras do meu tio, e agora, eu desato o nó de minha garganta lembrando-me do seu silêncio, talvez, o silêncio de um grito... de um grito sem socorro!

 --Onde quer que esteja, receba o meu beijo e o meu carinho.Armando Melo de Castro.

Candeias MG Casos e Acasos